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Biblioteca. Após instalação de escoras, funcionários continuaram trabalhando
Em algumas áreas, como a biblioteca, funcionários têm de trabalhar em meio a andaimes e suportes; reforma deve custar R$ 50 milhões.
Bruno Tavares - O Estado de S.Paulo
As vigas metálicas espalhadas pelos austeros corredores do 6.º andar denunciam que há algo de errado no Palácio da Justiça, a sede do Judiciário paulista, no centro da capital. Elas tiveram de ser instaladas às pressas, depois que um laudo encomendado pelo Tribunal de Justiça (TJ) constatou infestações de cupim, infiltrações e sobrecarga de equipamentos sobre o forro de estuque, que ameaçava desabar.
A situação mais crítica era a da biblioteca, no 4.º andar. Ali, os arquitetos encontraram danos severos na estrutura de madeira que sustenta o forro de 219 metros quadrados. Além da instalação de andaimes e mantas de proteção, recomendou-se a imediata interdição do salão de leitura, reservado aos visitantes. O acervo foi transferido para outro prédio. Os funcionários só tiveram autorização para continuar trabalhando debaixo do forro depois que ele recebeu as novas vigas de sustentação.
As fotos e plantas que acompanham o diagnóstico das condições estruturais do Palácio da Justiça revelam um amplo leque de deficiências - "sinais de umidade no teto, acúmulo de água em calhas, trincas, fissuras, pontos de infiltração, perda de camadas de revestimento e áreas com o forro abaulado".
Oito salas localizadas no 6.º andar mereceram atenção especial dos técnicos. Eram os pontos onde o forro apresentava sinais mais evidentes de instabilidade. "Devido à dificuldade de interrupção das atividades nelas desenvolvidas, deverão ser intensamente monitoradas, visando avaliar o grau de agravamento das patologias e possível necessidade de oportuna interdição, parcial ou total, dos locais", advertiam os arquitetos.
A fachada interna do palácio, que não pôde ser incluída na reforma realizada entre 2007 e 2009, também teve de ser coberta por uma tela, para evitar que o descolamento de pedaços do revestimento da parede provocasse acidentes.
Obras. Diante desse quadro preocupante, a Corte decidiu acelerar o plano de reforma das áreas internas de sua sede. O contrato para a elaboração do projeto foi assinado no dia 10. Por R$ 1,2 milhão, o consórcio formado pelos escritórios de arquitetura Argeplan, Kruchin e Kiefer vai traçar o plano de recuperação do palácio, erguido de frente para a Praça Clóvis Bevilacqua. A ideia é que tudo seja renovado - rede elétrica, hidráulica, de internet e de telefonia, além dos sistemas de proteção e combate a incêndio, segurança, sonorização e até comunicação visual.
O projeto de restauro do telhado, mais urgente, deverá ser entregue em 90 dias para que o TJ possa agilizar os pedidos de autorização junto aos órgãos estadual e municipal de defesa do patrimônio histórico (Condephaat e Conpresp) e providencie a contratação da obra. O prazo para conclusão do resto do projeto é de um ano. O tribunal planeja gastar R$ 50 milhões com as obras de reforma do palácio.
Reocupação. "A forma como utilizamos o prédio durante décadas contribuiu para sua deterioração", reconhece o juiz José Maria Câmara Júnior, assessor da presidência e encarregado de administrar os imóveis da Corte. É ele quem coordena o amplo plano de reocupação do palácio projetado na década de 1920 pelo arquiteto Ramos de Azevedo, autor de ícones da arquitetura paulistana no século passado, como o Teatro Municipal e o Mercado Municipal da Rua Cantareira (leia abaixo).
Tanto quanto o aspecto estrutural, Câmara Júnior está preocupado com os danos causados aos detalhes que conferem alma ao prédio, como os pisos revestidos em mármore Chiampo e Carrara. "Notamos que os degraus de algumas escadas, por exemplo, já estão abaulados, tamanho o desgaste", lamenta o juiz.
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