Como agente disfarçado, Robert Wittman não podia aparecer nos jornais
“As seis pinturas na mala eram falsificações, cópias que eu escolhera em um armazém do governo, mas boas o bastante para enganar Laurenz e Sunny. O roteiro determinava que déssemos um passeio a bordo de um barco alugado. Na embarcação, encontraríamos um traficante de drogas colombiano e venderíamos a ele as pinturas por 1,2 milhão de dólares. É claro que o criminoso e os outros no iate – seus capangas, as mulheres sensuais, o capitão e os garçons – eram colegas do FBI disfarçados.” São cenas como essa, em que se finge de contrabandista para prender dois compradores de arte roubada, que o agente Robert Wittman narra emInfiltrado - A História Real de um Agente do FBI à Caça de Obras de Arte Roubadas (tradução de Alexandre Martins, Zahar, 328 pág, 39,90 reais), no país desde sexta.
Mais que memórias e momentos de thriller hollywoodiano, o livro mostra a criação da divisão de crimes contra arte no FBI, em 2005, dá aula de história da arte e revela os meandros de um mercado negro que movimenta 6 bilhões de dólares ao ano. Um mercado que corre em paralelo com os igualmente escusos mercados de armas e, segundo alguns especialistas, de drogas. E que por vezes serve de casa de moeda a esses, porque vender uma obra-prima roubada é negócio dos mais difíceis. O mercado negro é por natureza mercado de um público restrito, que sabe que não poderá exibir seu brinquedinho, se o adquirir.
Em Infiltrado, descobre-se de fato que contrabandear uma obra de arte pode ser uma roubada. Ladrões dificilmente conseguem mais de 10% do valor de uma peça tirada de um colecionador particular ou de um museu, ou porque ela será usada para a troca por armas ou porque não há quem pague alto por uma peça que terá de manter em segredo. Especialmente, se a obra for célebre como O Grito, de Edvard Munch, furtada em 2004 e recuperada dois anos depois na Noruega. Em negociação com policiais disfarçados, os ladrões fecharam negócio por 750.000 dólares – o quadro vale 750 milhões.
Em Infiltrado, descobre-se de fato que contrabandear uma obra de arte pode ser uma roubada. Ladrões dificilmente conseguem mais de 10% do valor de uma peça tirada de um colecionador particular ou de um museu, ou porque ela será usada para a troca por armas ou porque não há quem pague alto por uma peça que terá de manter em segredo. Especialmente, se a obra for célebre como O Grito, de Edvard Munch, furtada em 2004 e recuperada dois anos depois na Noruega. Em negociação com policiais disfarçados, os ladrões fecharam negócio por 750.000 dólares – o quadro vale 750 milhões.
Descobre-se também que casas e organizações particulares são o maior alvo de ladrões (52%), seguidas de museus (10%), galerias (10%) e igrejas (8%). E que boa parte dos roubos é feita por figuras de dentro das casas ou instituições. Foi assim que a Monalisa, de Leonardo da Vinci, foi levada em 1911 do Louvre por um vidraceiro que trabalhava no museu francês.
E descobre-se, ainda, os truques usados pelos agentes federais para enganar seus alvos. Se tentassem detê-los diretamente, sem gravar às escondidas uma admissão de culpa ou qualquer outra prova que determinasse uma prisão, poderiam perdê-los e a seus furtos de vista. É preciso se aproximar à paisana, travar amizade, ganhar confiança e registrar as confissões necessárias, para então prender o sujeito. “É preciso trair”, repisa Wittman diversas vezes no livro.
Como os crimes contra a arte impactam o mercado oficial de arte? A estimativa global é de que cerca de 6 bilhões de dólares são perdidos por ano como resultado de falsificação, fraudes, roubos e saques. E, quando colecionadores se veem enganados por falsificações, eles não apenas perdem dinheiro, mas o desejo de se envolver com o mercado de arte, esvaziando-o. Isso também impacta a indústria de seguros, tanto pelo montante que tem de pagar por perdas como pelos reparos dos danos causados em obras recuperadas. A indústria do crime não tem impacto sobre a criação de obras de arte, mas, por causa dela, a autenticidade das obras tem de ser mais bem preservada e a proveniência deve ser muito mais detalhada no mercado de arte atual.
Que tipo de habilidades um mestre em crime contra arte deve ter? Um investigador de crimes de arte deve saber um pouco sobre história da arte e ser um especialista em alguma área de arte ou de colecionáveis. No meu caso, meus pais eram comerciantes de antiguidades asiáticas, por isso tenho conhecimento nessa área. Um bom investigador precisa saber também quem são as pessoas envolvidas na indústria da arte. Acima de tudo, ele tem que lembrar que crimes de arte não são sobre história da arte, mas sobre o negócio da arte e que a verdadeira arte em qualquer roubo de arte não é roubar, mas sim vender.
Em que países os crimes contra arte são mais comuns? Há certos países que são mais vulneráveis ao roubo de arte, principalmente aqueles em desenvolvimento. Esses países têm histórias ricas e os artefatos de seu passado são cobiçados por colecionadores. Na América do Sul, é o caso de Peru, Equador, Guatemala, Bolívia, Colômbia e até mesmo o Brasil. Países asiáticos como Camboja, Tailândia e China também têm problemas, assim como os países do “berço da civilização” como Egito, Iraque e Afeganistão. Na Europa, o problema é diferente: há uma quantidade grande de arte tradicional, de pinturas e esculturas, e os edifícios que as abrigam não lhes prestam boa segurança. Então, o crime contra arte é um problema de âmbito internacional.
Que tipo de habilidades um mestre em crime contra arte deve ter? Um investigador de crimes de arte deve saber um pouco sobre história da arte e ser um especialista em alguma área de arte ou de colecionáveis. No meu caso, meus pais eram comerciantes de antiguidades asiáticas, por isso tenho conhecimento nessa área. Um bom investigador precisa saber também quem são as pessoas envolvidas na indústria da arte. Acima de tudo, ele tem que lembrar que crimes de arte não são sobre história da arte, mas sobre o negócio da arte e que a verdadeira arte em qualquer roubo de arte não é roubar, mas sim vender.
Em que países os crimes contra arte são mais comuns? Há certos países que são mais vulneráveis ao roubo de arte, principalmente aqueles em desenvolvimento. Esses países têm histórias ricas e os artefatos de seu passado são cobiçados por colecionadores. Na América do Sul, é o caso de Peru, Equador, Guatemala, Bolívia, Colômbia e até mesmo o Brasil. Países asiáticos como Camboja, Tailândia e China também têm problemas, assim como os países do “berço da civilização” como Egito, Iraque e Afeganistão. Na Europa, o problema é diferente: há uma quantidade grande de arte tradicional, de pinturas e esculturas, e os edifícios que as abrigam não lhes prestam boa segurança. Então, o crime contra arte é um problema de âmbito internacional.
Máscara do Homem com Nariz Quebrado: escultura que lançou Rodin no Impressionismo e deu início à carreira de Wittman como investigador de crimes contra arte
O que um governo deveria fazer para proteger a coleção de arte de um país? Os governos devem guardar em locais seguros suas coleções nacionais, além de treinar os guardas para protegê-las de roubo. Eles deveriam ainda treinar os seus inspetores nas alfândegas para impedir que os tesouros nacionais deixem as fronteiras e trabalhar junto aos países que recebem essas obras de arte contrabandeadas para formar alianças. Isso é um processo com várias etapas, que começa de dentro e depois tem que se internacionalizar.
É verdade que peças de arte se tornam moedas de terroristas? Arte cara e propriedades culturais como antiguidades pré-colombianas, asiáticas e africanas são avidamente procuradas no mercado de colecionadores. Como resultado, essas peças de arte podem ser vendidas para levantar dinheiro para ser usado de diferentes maneiras. Uma delas é o financiamento de convulsões políticas, então, obras de arte e colecionáveis podem ser usados para financiar a aquisição de armas.
O que pode ser feito para combater esse tipo de crime com bens históricos, praticados até por soldados americanos no Oriente Médio, como o senhor conta em seu livro? Os Estados Unidos estão treinando os inspetores da alfândega para procurar por tráfico ilegal de bens culturais. Além disso, o Exército americano instituiu uma política para treinar soldados contra a tomada de antiguidades e como reconhecê-las quando estão no exterior. A aplicação dos estatutos alfandegários e leis nacionais de propriedade roubada são as formas usuais de contenção de crimes de arte.
É verdade que peças de arte se tornam moedas de terroristas? Arte cara e propriedades culturais como antiguidades pré-colombianas, asiáticas e africanas são avidamente procuradas no mercado de colecionadores. Como resultado, essas peças de arte podem ser vendidas para levantar dinheiro para ser usado de diferentes maneiras. Uma delas é o financiamento de convulsões políticas, então, obras de arte e colecionáveis podem ser usados para financiar a aquisição de armas.
O que pode ser feito para combater esse tipo de crime com bens históricos, praticados até por soldados americanos no Oriente Médio, como o senhor conta em seu livro? Os Estados Unidos estão treinando os inspetores da alfândega para procurar por tráfico ilegal de bens culturais. Além disso, o Exército americano instituiu uma política para treinar soldados contra a tomada de antiguidades e como reconhecê-las quando estão no exterior. A aplicação dos estatutos alfandegários e leis nacionais de propriedade roubada são as formas usuais de contenção de crimes de arte.
fonte:VEJA