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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Brasileiro que escapou de Trípoli relata violência na Líbia

JEFFERSON PUFF
DE SÃO PAULO 
Após retornar ao Brasil com segurança nesta terça-feira, o mineiro Felipe Carvalho, que escapou de Trípoli na noite de ontem (21), relatou à Folha ter presenciado a escalada de violência na Líbia nos últimos três dias, até que a situação ficasse "insustentável" na capital.
Asmaa Waguih/Reuters



Manifestante mostra cápsula de morteiro (bomba) lançado contra a região de Tobruk por tropas leais ao regime
Carvalho trabalha numa empresa portuguesa que tem escritórios em Trípoli e em Benghazi e no ano passado já tinha ficado 5 meses no país. Depois das férias de fim de ano, voltou à Líbia no dia 20 de janeiro.
"Já estávamos sem internet há três dias. Durante o dia a situação ainda era menos tensa, mas à noite ouvíamos muitos tiros", disse.
Ele consegiu remarcar sua passagem de volta ao Brasil pela companhia aérea alemã Lufthansa e retornou fazendo escala em Frankfurt.
O brasileiro disse ter visto helicópteros militares sobrevoando a capital líbia, mas não presenciou e nem ouviu confirmações de que eles tivessem bombardeado a cidade.
Já seus colegas em Benghazi confirmaram por telefone que a cidade portuária foi alvo de bombas lançadas por jatos militares das Forças Armadas líbias. 
INCÊNDIOS
Carvalho destacou ainda que os prédios do governo estão sendo queimados e destruídos sistematicamente em todo o país, mesmo com a dura repressão. "Diversos escritórios oficiais foram incendiados nos últimos dias. Uma delegacia a 600 metros da minha casa estava em chamas quando saímos".
Momentos após um boato de que Gaddafi teria fugido para a Venezuela muitos fogos de artifício foram ouvidos por toda a cidade e gritos de comemoração, disse o brasileiro.
Ele disse ainda que no caminho para o aeroporto de Trípoli, na noite de ontem (21), passou em frente ao palácio presidencial do ditador Muammar Gaddafi, e que viu muitos manifestantes no local.
"Levei uma hora e meia só para conseguir entrar no aeroporto. A Líbia tem muitos estrangeiros. Chineses, asiáticos, espanhóis, brasileiros. Todo mundo está querendo sair o mais rápido possível e o aeroporto não comporta todo esse fluxo", disse à Folha por telefone.
MINISTRO RENUNCIA
Mais cedo o "número dois" do regime líbio, o ministro do Interior e general Abdul Fatah Younis, apresentou sua renúncia e exortou o Exército da Líbia a juntar-se aos manifestantes e defender suas "demandas legítimas" que apontam para a renúncia do ditador Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder, diz a emissora árabe Al Jazeera, com base no Qatar.
As declarações chegam pouco após a comunidade internacional soar alertas de que a situação na Líbia se deteriora cada vez mais.
Sete dias após o início dos intensos protestos e a escalada do massacre orquestrado pelo governo líbio, que enviou mais helicópteros e jatos de guerra para atirar contra os civis, o caos toma conta da Líbia nas ruas da capital Trípoli, de Benghazi e outras cidades, e diversos países fazem operações de emergência para retirar seus cidadãos do país.
Os alertas da deterioração da situação incluem o discurso do ditador Muammar Gaddafi, no qual afirma que "morrerá como mártir" no país e os relatos de que centenas já tentam fugir para países vizinhos, o que pode acarretar numa crise de refugiados. 
Centenas de pessoas tentam fugir do país e chegar ao Egito. A agência de refugiados da ONU (Organização das Nações Unidas) pediu aos vizinhos da Líbia para que não recusem os que estão fugindo da violência. Centenas de refugiados chegaram ao Egito em tratores e caminhões descrevendo uma onda de mortes e bandidagem provocada pela revolta. Relatos indicam que manifestantes da oposição assumiram o controle da fronteira líbia com o país nas últimas 12 ou 24 horas.
A Human Rights Watch (HRW) diz que mais de 233 pessoas já morreram na Líbia e a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), estima entre 300 e 400 mortos. Não há números oficiais confiáveis e analistas indicam que o total de vítimas deve ser maior do que as estimativas das ONGs.
Os relatos do agravamento da situação na Líbia chegam horas após o discurso do ditador Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder, que serviu para enfurecer ainda mais os manifestantes que exigem sua renúncia e soou alarmes à comunidade internacional que se atenta para a gravidade do que ocorre no país. 
Hussein Malla/AP
Exército do Egito monta hospital de campanha na fronteira com a Líbia; mais de 5.000 egípcios já retornaram
O Conselho de Segurança da ONU se reuniu por mais de uma hora para discutir o assunto a pedido do representante permanente adjunto da Líbia e anunciou uma sessão de emergência em aberto a partir das 17h de Brasília para obter o parecer de cada país-membro. Há indícios de que as Nações Unidas possam emitir sanções ao regime líbio.
O Brasil está atualmente na presidência rotativa do órgão, representado pela embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti.
Fontes diplomáticas indicaram que China e Rússia "não colocaram impedimentos e querem seguir adiante" com a advertência ao regime do ditador líbio.
MUNDO FECHA O CERCO A GADDAFI
Ainda em reação ao seu pronunciamento e às agressões de Gaddafi à população, o próprio organismo dos países da região, a Liga Árabe, reuniu-se emergencialmente em sua sede no Cairo e anunciou que a Líbia será excluída temporariamente das sessões do bloco.
Segundo um comunicado oficial, "está suspensa a participação das delegações governamentais da Líbia nas reuniões do Conselho da Liga Árabe e de todas as suas organizações dependentes até que as autoridades líbias cumpram os requerimentos" do bloco. 
Asmaa Waguih/Reuters
Manifestantes protestam em Tobruk, cidade que segundo o Exército líbio já está sob controle dos opositores
A chanceler (premiê) da Alemanha, Angela Merkel, considerou "muito assustador" o discurso e exigiu, ao mesmo tempo, das autoridades líbias, "o fim da violência contra o próprio povo", acrescentando que, "se isto não for o caso, a Alemanha passará a refletir sobre a imposição de sanções" a Trípoli.
Mais cedo o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu ajuda aos países árabes para chegar a uma solução na crise líbia antes que o massacre dos civis se solidifique no país.
Ele analisou a situação na Líbia e no Iêmen com o emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al Thani.
"Ambos concordaram que a comunidade internacional e em particular os líderes árabes e a ONU deveriam pedir o imediato fim dos atos de violência e o início do diálogo amplo" para resolver a situação de maneira pacífica, acrescenta.
DISCURSO
"Muammar Gaddafi é o líder da Revolução, sinônimo de sacrifícios até o fim dos dias. Esse é o meu país, de meus pais e meus antepassados", afirmou. Ainda durante o pronunciamento, e em meio a gritos e socos no pódio, prometeu lutar contra os manifestantes que pedem o fim de seu regime e disse que irá "morrer como um mártir", já que abandonar o poder "não está entre as suas opções".
Alaguri/AP
 Centenas de trabalhadores turcos aguardam navio enviado pela Turquia para resgatá-los no porto de Benghaz
O ditador disse ainda que "os que instigam a guerra civil" serão punidos com morte e execução".
O tom do ditador e os alarmantes indícios de um massacre ao estilo do que ocorreu na China na praça da Paz Celestial, quando o governo abriu fogo contra os civis, repercutiu entre líderes internacionais e na própria região.
SEGUNDA APARIÇÃO
O ditador apareceu na TV estatal nesta terça-feira após ter feito uma breve declaração na noite de ontem (21), quando limitou-se a dizer que ainda estava à frente do país e que estava em Trípoli e "não na Venezuela", desmentindo rumores de uma possível fuga.
Vestido com um robe marrom e um turbante, ele discursou de um pódio colocado na entrada de um prédio bombardeado que aparentava ser sua residência em Trípoli --atingida por ataques aéreos dos Estados Unidos na década de 1980 e deixado sem reparos como um símbolo de desafio. 
AFP
Ditador líbio, Muammar Gaddafi, durante pronunciamento na TV; ele diz que não sairá e irá morrer como mártir
Ele disse que "tem o direito de lutar pela Líbia". "Nós não insistimos em nada, a não ser lutar pelo bem da Líbia. Passei minha vida sem ter medo de nada. Eu devo permanecer aqui, desafiador", acrescentou.
"A Líbia quer glória, a Líbia quer estar no topo, no topo do mundo."
"Sou um guerreiro, um revolucionário de tendas. Vou morrer como um mártir no final."
Segundo o ditador, ele não tem poder para decidir sobre sua própria renúncia --este poder está nas mãos dos chamados "comitês verdes".
O ditador ainda afirmou que Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, está sendo "aterrorizada". "Eles foram ao aeroporto, que foi destruído. Não há aviões partindo ou chegando de Benghazi. Não há aviões chegando à Líbia."
USO DA FORÇA
Gaddafi prometeu ainda não usar força de novo contra os manifestantes, mas ameaçou "aqueles que tomam parte na guerra civil" --que, segundo ele, é o que está acontecendo no país-- "e os que instigam a guerra civil" serão punidos com morte e execução.
Ele dedicou boa parte de seu discurso desafiando e atacando potências ocidentais, principalmente os EUA. "Vocês querem que os EUA venham aqui e façam o que fizeram à Somália, ao Afeganistão, ao Paquistão, ao Iraque? É isso o que vocês querem?", questionou.
"Persigam-nos, prendam-nos, entreguem-nos às [forças de] segurança. Eles são apenas poucos, eles são terroristas." 
Reuters
Manifestantes contra governo de Gaddafi carregam bandeira gigante durante protesto na cidade de Tobruk
O mandatário líbio convocou a população --"todos os homens e mulheres e crianças"-- para sair às ruas nesta quarta-feira e assumir o controle. "Devemos tomar todo o país e mostrar a eles o que é uma revolução popular", disse. Ele pediu ainda a jovens que gritem frases de defesa ao regime e coloquem faixas que divulguem as realizações da "revolução".
"A partir de amanhã, famílias, peguem seus filhos, deixem suas casas, todos vocês que amam Muammar Gaddafi, vão às ruas, controlem as ruas, não tenham medo deles."
Gaddafi afirmou que "ainda não usamos forças ainda, mas se for necessário, iremos usar" e ameaçou "aqueles que tomam parte na guerra civil" --que, segundo ele, é o que está acontecendo no país-- "e os que instigam a guerra civil" serão punidos com morte e execução.
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/879512-brasileiro-que-escapou-de-tripoli-relata-violencia-na-libia.shtml?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

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