O novo líder da Al Qaeda é ainda mais radical que Osama bin Laden, mas terá de lutar para manter a relevância do grupo terrorista num momento de levantes populares no mundo árabe.
Depois da morte de Bin Laden, no domingo, Ayman al-Zawahiri, um médico egípcio de 59 anos e jihadista desde os 15, vai quase certamente assumir a liderança formal da rede terrorista que ajudou a criar em 1988. Embora não conte com a fortuna e o carisma de Bin Laden, Zawahiri é há muito tempo o principal ideólogo e líder operacional da Al Qaeda.
"Zawahiri tem sido absolutamente crucial para a estratégia, desenvolvimento e evolução da Al Qaeda", disse Bruce Hoffman, um especialista em terrorismo da Universidade Georgetown, em Washington. "De maneira nenhuma estamos lidando com um peso leve. Ele não só fala como age."
Zawahiri devorou ideias radicais islâmicas desde pequeno e entrou numa célula jihadista quando ainda era adolescente. Essa célula se tornou depois parte do Jihad Islâmico Egípcio, um grupo que lutava para derrubar o governo do Egito. Ele foi preso por causa de sua participação no assassinato do presidente Anwar Sadat, em 1981.
Depois de libertado, Zawahiri ajudou a influenciar Bin Laden para uma atitude mais militante durante a resistência afegã contra a ocupação soviética, nos anos 80. Até o fim da década, ele ajudou a fundar a Al Qaeda e depois foi o autor de sua declaração de guerra contra os Estados Unidos. Ele também iniciou as pesquisas da Al Qaeda sobre armas de destruição em massa, concebeu uma justificativa para os atentados suicidas em que morriam outros muçulmanos e ajudou a planejar os atentados de 11 de setembro de 2001.
Ele é incansável na autopromoção de seus inúmeros livros que atacam a Irmandade Muçulmana, ridicularizando a democracia e condenando os jihadistas arrependidos. Ele tem sido a face pública da Al Qaeda em várias gravações de áudio e vídeo e em sessões de perguntas na internet nos últimos anos, em que justifica os ataques da Al Qaeda contra civis e aproveita para promover seus próprios livros.
Desde o início da chamada "Primavera Árabe", Zawahiri tem sido acusado de expressar uma reação oficial da Al Qaeda aos levantes populares que enfraquece o núcleo ideológico do grupo.
Sua localização atual é desconhecida. As autoridades americanas acreditam que ela está no sul da Ásia, mas não revelam em que país ele estaria se escondendo. Informações obtidas com detentos na base americana da Baía de Guantánamo, Cuba, mostram que Zawahiri, que como Bin Laden tem a cabeça a prêmio por US$ 25 milhões, trocou de morada em maio de 2005 e passou a viver "num bom lugar de propriedade de um humilde idoso".
Autoridades americanas de combate ao terrorismo dizem que Zawahiri pode enfrentar dissidências internas. "Acho que ele tem muitos detratores dentro da própria organização. E acho que você vai começar a vê-los se devorando uns aos outros mais e mais", disse ontem numa entrevista coletiva John Brennan, principal assessor do presidente Barack Obama para terrorismo.
Os protestos principalmente pacíficos que derrubaram os governos da Tunísia e do Egito representam um desafio para a Al Qaeda e Zawahiri. O grupo terrorista prega há muito tempo que a resistência violenta é a única maneira de derrubar o que considera líderes corruptos e a Al Qaeda tem um ódio visceral à democracia. Ambos os fundamentos são ameaçados pela Primavera Árabe.
Numa série de cinco mensagens de áudio e vídeo, Zawahiri já aplaudiu a derrubada do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak, mas ridicularizou o levante popular.
"Estamos diante de uma revolução popular que virou um golpe militar executado pelo antigo regime com incentivo dos americanos", disse ele em meados de abril, alertando os manifestantes a aderir à lei islâmica
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