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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Cena de Cuba: em seu país, a autora Wendy Guerra permanece inédita

Diante da censura e da repressão imposta pelo regime socialista de Cuba, a maioria dos cubanos se vê diante de duas opções: fugir da ilha ou se calar. Poucos ousam ficar e criticar o sistema abertamente como a escritora Wendy Guerra, 41 anos.

Seu primeiro romance, Todos se Vão (Benvirá/ R$ 39,90/ 272 páginas), publicado agora no Brasil, é exemplo da ousadia de Wendy. Traduzida em 11 idiomas, seus livros, porém, são vetados em  Cuba.

?Lá, sou um personagem de ficção?, comentou  ela quando veio à Festa Internacional Literária de Parati (Flip), no Rio, no ano passado, ocasião em que  também lançou no Brasil o romance Nunca Fui Primeira Dama.



Diários íntimos
Nesses dois livros, a autora mistura fatos históricos com ficção e sua própria biografia. Não por acaso, em Todos se Vão, sua protagonista se  chama Nieve Guerra. Assim como Wendy Guerra, Nieve nasceu na cidade de Cienfuegos, em 1970:  11 anos após a revolução liderada por Fidel Castro.

Vencedor do prêmio espanhol Brugrera, Todos se Vão, de 2006, é estruturado como um diário, aliás, o gênero de escrita preferido de Wendy, que  teve vários diários desde a infância, tal como Nieve.  O leitor acompanha os desabafos dessa cubana diante das muitas perdas que enfrenta, dos 8 aos  20 anos.  Filha de uma radialista hippie e de um artista de teatro revolucionário, o sofrimento de Nieve começa quando ela é obrigada a viver por um período com esse pai bêbado e violento, que a espanca e a deixa sem comida frequentemente. Quando esses maus-tratos são denunciados à Justiça, Nieve passa um tempo em um orfanato, até voltar a viver com sua mãe, que pouca atenção lhe dá. Em meio a esses dramas familiares, a personagem, aos poucos, se dá conta também das agressões cotidianas que sofre e  testemunha por conta da ditadura. Ler um simples livro ou ouvir uma música considerada subversiva gera risco de prisão. Além disso, covardias cometidas com quem está prestes a deixar o país são aceitas  com naturalidade por muitos. ?As pessoas jogam ovos, tomates e pedras na casa de quem está indo embora. Às vezes até arrastam pelo chão os que estão indo?, escreve Nieve, aos 10 anos, sobre os chamados ?atos de repúdio?.

Atirar bem Ao entrar na adolescência surgem novos conflitos. Entre seus amigos, Nieve também se sente deslocada e sofre com a frieza dessa  geração de jovens desencantados, que jogam o amor para escanteio. ?Para piorar, está na moda não se beijar. Eles se amassam e se tocam, alguns até transam, mas como o lance é NO LOVE, não se beijam. Não entendo nada, mas sobrevivo dentro desse circo?.

Ingressando na faculdade de Arte, em Havana, a artista plástica novata  tampouco escapa  da Escola de Preparação Militar, obrigatória também para as mulheres. ?Não suporto nada que seja militar, nem mesmo as calças de camuflagem que estão na moda. Mas, se eu não for, me tiram da escola; como diz a ordem: ?Todo cubano deve saber atirar muito bem??. Já no meio artístico, mais do que nunca, o alter ego de Wendy  se defronta com a censura: ?Há mais policiais do que críticos entre nós?.  Ao mesmo tempo, ela percebe como certos artistas, de trânsito internacional, vivem como privilegiados, tendo acesso a casas, roupas e outros bens burgueses. ?E olhe que em Cuba não existe diferença de classes?. Desintegração Por outro lado, quem não suporta as hipocrisias do regime  foge do país. Assim fazem  vários amigos de Nieve, deixando-a cada vez mais só. A situação para Wendy é das mais reais:  seu ex-marido, Humberto Castro,  depois de se destacar na pintura  em Cuba, nos anos 80, deixou a ilha para nunca mais voltar - e mora em Miami.

Uma das passagens mais emblemáticas do livro  é quando Nieve vê um edifício inteiro desabar  na sua frente, de uma hora para outra, no centro de Havana. ?Meu Deus, senti que Havana está desmoronando e lembrei que minha casa foi declarada inabitável?.

Páginas adiante, a personagem expressa a sua perplexidade diante de outro desmoronamento. Dessa vez, o do Muro de Berlim. ?Estamos  escorados pelos muros, sem eles, onde vamos parar, que viagem é esta??.
Feminismo Apesar de ter como nome de batismo a palavra ?neve? (Nieve, em espanhol), a personagem se mostra uma mulher de fibra, que não ?derrete? diante das pressões familiares e sociais.

Nesse sentido, Todos se Vão é também um livro feminista, que mostra a força das mulheres numa sociedade extremamente machista. ?O machismo em Cuba está disfarçado pela alta instrução, mas está aí, ameaçando a gente o tempo todo, entre o jogo e a realidade. A censura aparece em cada homem que cruzo no caminho?, escreve, lembrando como todos os homens eram contra os seus diários.

Só neles Nieve exerce sua plena liberdade, inclusive demonstrando, em palavras, uma feminilidade escondida. Ao descrever cenas de  sexo, por exemplo, ela mostra  tanta  classe quanto Anaïs Nin (1903-1977), autora francesa reconhecida por seus diários  eróticos, e que é uma  referência para Wendy.

Ignorada em Cuba, Wendy segue muito notada pelo mundo, publicando escritos diretamente da Ilha, através do blog Habáname, do site espanhol El Mundo. Livro Todos se Vão
Autor Wendy Guerra
Tradução Josely Vianna Batista
Editora Benvirá
Preço
 R$ 39,90 (272 págs.)

fonte:http://www.tosabendo.com/conteudo/noticia-ver.asp?id=72726


Wendy Guerra, 39 anos, Cuba
Além de ter causado polêmica em seu país por ter posado nua para ensaios artísticos, a cubana Wendy Guerra conquistou a antipatia do governo com seus livros, em que conta como é a vida sob a ditadura comunista. Eles foram proibidos de circular por ali e até suas correspondências foram interceptadas. Na Flip, ela vai lançar “Nunca Fui Primeira-Dama”, inspirado na história de sua própria mãe e da guerrilheira comunista Celia Sánchez, primeira mulher do movimento rebelde cubano.

fonte:http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/category/sem-categoria/page/17/

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