O ditador teria armado seus seguidores para atacar manifestantes em Trípoli
(Patrick Baz/AFP)
Manifestante líbio mostra munição confiscada de soldado; rebeldes dominam quase metade do litoral do país O general Abdul Nafa Moussa, chefe das Forças Armadas da zona oriental da Líbia, dominada por manifestantes há dias, pediu neste sábado aos demais oficiais do país que "marchem em direção a Trípoli" e se rebelem contra o regime do ditador Muamar Kadafi.
Durante uma entrevista coletiva em Benghazi, ele se mostrou convencido de que todos os oficiais da parte oriental do país já estão contra o regime e ressaltou que não há nenhuma intervenção estrangeira na revolução, nem de nenhuma organização política ou de radicais islâmicos."Somos um só país e um país livre que Kadafi tenta separar", exclamou entre aplausos de uma dezena de militares que se encontravam presentes. "O sangue de nossos jovens e de nossas crianças não será esquecido até que Kadafi caia", ressaltou.
O general descartou uma ação imediata dos manifestantes da zona liberada rumo À capital do país. "A missão atual das forças especiais é proteger o povo de Benghazi e de outras cidades", afirmou à agência EFE. "Estamos recrutando nossas forças e preparando-as", assinalou Moussa. "Acreditamos que o povo vai libertar a capital".
Por outro lado, moradores de Trípoli informaram que o regime estaria armando simpatizantes civis para montar bloqueios nas estradas ao redor da capital e atacar os manifestantes. A revolta popular que se espalhou para várias partes do país constitui o maior desafio que Kadafi já enfrentou em seus 42 anos no poder. A ONU estima ao menos 1.000 pessoas tenham morrido nos mais de 10 dias de confrontos.
Reação internacional - No front diplomático, o governo Grã-Bretanha contatou autoridades da Líbia para convencê-las a abandonar Kadafi se não quiserem ser julgadas junto com o ditador por crimes contra a humanidade. De acordo com o jornal The Guardian, as advertências britânicas coincidem com uma minuta conjunta de resolução da ONU para levar os dirigentes líbios ao Tribunal Penal Internacional.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, viajarão na próxima segunda-feira a Genebra para defender a iniciativa. "A mensagem é clara: haverá um dia no qual os responsáveis por tais atrocidades serão responsabilizados", declarou na sexta-feira o chefe da diplomacia britânica.
Na última sexta-feira, os Estados Unidos, a União Europeia e a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciaram a intenção de impor sanções contra a Líbia devido à repressão violenta aos protestos contra o regime.
Vários diplomatas líbios também já renunciaram a seus cargos ou passaram para o lado dos rebeldes nos últimos dias. Entre eles, representantes credenciados nas Nações Unidas em Genebra, a delegação líbia na Liga Árabe, a embaixada líbia em Nova Délhi e o embaixador de Trípoli na França. Também abandonaram Kadafi os embaixadores líbios em Lisboa e Estocolmo.
Até o amigo de longa data do ditador, o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, disse que Kadafi está perdendo o controle da situação em seu país. "Parece que efetivamente Kadafi não tem mais o controle da situação na Líbia", afirmou o premiê em um evento em Roma, neste sábado. "Se todos chegarmos a um acordo poderemos acabar com esse banho de sangue e apoiar o povo líbio", completou.
Corrupção - Além de comandar atos de violência, Kadafi também estaria envolvido em casos de corrupção. O jornal britânico The Times revelou que o ditador tirou fundos da Líbia para enviá-los a contas secretas em diferentes partes do mundo. Segundo o diário, só na última semana Kadafi depositou em segredo 3 bilhões de libras (US$ 4,8 bilhões) em Mayfair, elegante bairro londrino conhecido por seus gerentes de fundos privados.
fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/general-pede-mobilizacao-de-forcas-armadas-contra-kadafi