Médicos especializados no tratamento da obesidade contestam o relatório que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) usou para fundamentar a proposta de retirada do mercado das drogas usadas para emagrecer. Para eles, os dados foram usados de maneira a favorecer a proibição dos remédios.
A Anvisa quer banir de vez a comercialização de todos os remédios usados para emagrecer que atuam no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados de anfetamina (femproporex, dietilpropiona e mazindol). De acordo com a agência, que vai realizar uma audiência pública em Brasília na semana que vem sobre o assunto, essas quatro substâncias provocam “altos riscos à saúde”.
Segundo os especialistas, a Anvisa analisou praticamente os mesmos estudos avaliados em 2010 pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) para atualizar as diretrizes de tratamento dos obesos.
Rosana Radominski, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), diz que "o documento é muito convincente para quem não é da área".
– Eles usaram os resultados de acordo com o que queriam. Nós analisamos os mesmos estudos e entendemos de maneira diferente.
Segundo Ricardo Meirelles, presidente da Sbem, o relatório da Anvisa inclui citações de livros.
– E livros são a opinião do autor. Não são trabalhos científicos. Só por isso considero o relatório frágil.
Márcio Mancini, responsável pelo ambulatório de obesidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, diz que o teor do relatório "deu uma desanimada".
– Fizemos um grande esforço para atualizar as diretrizes, mas não serviu para nada. Aparentemente, os técnicos procuraram destacar apenas os dados negativos dos trabalhos. Deu uma desanimada, porque tudo indica que a decisão já está tomada.